Minha filha, não se envolva com amigo. Mais difícil do que iniciar o romance é terminá-lo. Não há como encerrar sem trauma, sem ressentimento, sem a crueldade da palavra exata. Ficará com medo de perder a amizade, e perderá. Não terá coragem de ser sincera como antes, e queimará o céu da boca. Não se envolva com amigo. O antigo confidente terminará sendo seu segredo (e agora, para quem contar?). Acabará o amor, mas não a amizade. Ele não dará nenhum motivo para o fim da relação. Não vai traí-la. Não vai provocar ciúme. Não vai cometer indelicadezas e grosserias. O homem certo é o errado. O homem ideal é imprestável. Ele não ajudará na despedida, fugirá das discussões de relacionamento. Como chegar e falar: “A brincadeira acabou, vamos retornar ao que era antes?” Não há como regressar, a amizade não é líquida como o amor. Não é gelo que volta a ser água que volta a ser chuva que volta a ser rio. Amigo não gera nem raiva, mas pena. Não exala a sensualidade da teimosia, o suor maravilhoso da discordância. Bancará a ruptura sozinha. Ele não facilitará o testamento. Será a ogra, a monstra, a interesseira. Ele dirá: “Mas nada aconteceu, por quê? O que eu fiz?” Nada aconteceu, ele não fez nada, o fim é exatamente a monotonia do bem. O amigo é a segurança, o conforto, o pique, a trégua do pega-pega. O amigo é a previsibilidade da justiça. E o amor, minha filha, é injusto.
— Fabrício Carpinejar
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