“Tenho um jeito calado, que observa tudo, que percebe as mentiras mesmo sem escutá-las, só pelas expressões das sobrancelhas e pela língua umidecendo os lábios. Tenho um jeito desconfiado que quase sempre acerta, que escuta e guarda, que lembra de pequenos detalhes esquecíveis. Esse meu jeito estranho de me expressar, saber que vai magoar mas continuar falando, por não aguentar guardar o que penso. Esse meu jeito incompreendido, julgado, calado, aflito. Não me entendo, mas tenho uma certa ansiedade de ser entendido, para me entender. Sei pouco, mas esse pouco que sei, anda me ajudando muito. Esse meu jeito frio, que mostra não importar, não escutar, não querer, não precisar, é o que eu passo. Afasto quem eu queria levar, e levo comigo quem eu queria afastar, sou fraco, sou indeciso. Sou uma grande interrogação.”

— Deplorável.